Debate sobre educação antirracista e colonialismo digital marcam lançamento de livro
A necessidade de descolonizar se ergue e coloca no exato momento em que passamos a enxergar o que talvez tenhamos nos negado enxergar por toda uma vida. Urge falar sobre, encarar essa conversa desconfortável e necessária enquanto temos um país dividido pelo mergulho que deu em desinformação que, por sua vez, redundou nos ataques golpistas contra a democracia, que se deram em 08 de janeiro de 2023, ante uma plateia estupefata: depois de tudo isso que vivemos? Ser aberto ao diálogo demanda afeto, um tipo de afeto especial, que nos permita ir além e, acima de tudo, transitar nas bolhas sociais e digitais em que temos vivido.
Mas não é só aqui, o problema é, por assim dizer, planetário e, por exemplo, enquanto um ex-jogador da liga de futebol americano profissional e comentarista da Fox Sports, após o assassinato do norte-americano George Floyd, um negro de 46 anos, em 25 de maio de 2020, começou um canal no YouTube para conversar com brancos e negros sobre racismo, do lado de cá do Atlântico, a autora Pollyana Ferrari vinha pesquisando, desde 2016, as camadas informacionais da desinformação, e essa pesquisa a levou perceber que ela se sustenta, como parasita, do racismo, dos discursos de ódio, da homofobia, do sexismo, entre outros (des)afetos que deveríamos tratar no divã de um psicanalista, ou mesmo no consultório de um psiquiatra, mas que despejamos e compartilhamos – sem cessar – nas redes.
Para o doutor em Educação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Luiz Rufino, a descolonização “deve emergir não somente como um mero conceito, mas também como uma prática permanente de transformação social na vida comum”. No dia 19 de outubro, a partir das 19h, no Bar do Beco (SP), teremos um debate sobre a relação entre Inteligência Artificial, desinformação e colonialismo com os convidados: Walter Lippold, doutor em História, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense e do Núcleo Reflexos de Palmares da Universidade Federal de São Paulo. É professor do Curso Uniafro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador de colonialismo digital, história da tecnologia, cibercultura, hacktivismo, da obra de Frantz Fanon. É autor de Fanon e Revolução Argelina (Proprietas, 2022) e , junto com Deivison Faustino, doutor em sociologia e professor do PPGSSPS e do Núcleo Reflexos de Palmares da Unifesp, escreveu o livro Colonialismo Digital: por uma crítica hacker-fanoniana (Boitempo, 2023). Sérgio Amadeu, professor da UFABC. Integrou o Comitê Gestor da Internet no Brasil (2017-2020). Autor de vários livros, entre eles, “Tudo sobre tod@s: redes digitais, privacidade e venda de dados pessoais”.
O debate também vai contar com a presença de Jaqueline Lima Santos, doutora em Antropologia Social pela Unicamp e Harvard Alumni Fellow. Atua como professora, pesquisadora e consultora nas áreas de equidade, raça, gênero, diversidade, educação, infância e juventude, história e cultura afro-brasileira e africana. É Consultora do Projeto SETA. Para Pollyana Ferrari, “descolonizar pelo afeto busca o encantamento, tornar o planeta mais digno e inclusivo, que exista para todos, e não apenas para alguns seres privilegiados pela renda e/ou pela cor da pele, algo só alcançável pela via da Educação”.