Natal. Sensação de fome constante e um aperto enorme no peito e no olhar. Felicidade comprada com flocos de algodão. Época quente, lugares cheios, crianças com olhares de ansiedade. Emoção a flôr da pele. Me sinto criança, apertada e aflita. Quero uma árvore de Natal que vá até o céu. Que papai noel exista e venha me visitar trazendo tudo o que perdi ao longo do caminho.
Tem dias que desejamos realmente que o teletransporte exista. Ninguém merece a programação da Globo em dezembro, a novela, o calor e essa chuva. Sei que sou chata, reclamona, mas hoje eram 7h10 e já estava na lavanderia deixando edredom para lavar. Será que sou muito chata? Com certeza sou, mas é duro entrar na fôrma, gostar do que todos gostam. Amar do jeito que todos amam. Aceitar a família Doriana, mesmo quando não acreditamos na instituição do casamento. Comprar nozes e figo para a mesa do dia 24, quando preferimos um abacaxi com cubos de gelo e um carpaccio esperto. A chuva trouxe um pouco de vento e também um pouco de animação. Resolvi resgatar a música Lenha, de Zeca Baleiro, que adoro, principalmente quando a letra diz:
se eu não sei dizer/o que quer dizer/ o que vou dizer/se eu digo pare/você não repare/no que possa parecer …
Quem sabe sonho que estou no frio, um bom vinho, nada na cabeça e a leveza de quem vive cada dia como se fosse um bom filme. Quem sabe o ano que vem consigo fazer cuscuz no Natal, trocar o pudim de leite condensado pelo gelado de manga. Enfim, possibilidades.