O título deste livro, “Nós – tecnoconsequências sobre o humano”, deve sua inspiração ao escritor russo Ievguêni Zamiátin (1884-1937). Pollyana Ferrari nos lembra que, entre 1920 e 1921, Zamiátin escreveu o romance “Nós” para desenhar um futuro então longínquo. Naquele futuro, haveria um Estado Único exercendo controle estrito sobre a população do Globo, administrativamente limitada a dez milhões de habitantes. A tecnologia a serviço do poder jogaria o papel central. “Não há espaço para o indivíduo, apenas para o coletivo, e as pessoas que encontraram a fórmula da felicidade são chamadas por números”, observa Pollyana Ferrari, uma das mais sensíveis e destacadas pesquisadoras brasileiras dedicadas a pensar o emaranhado labiríntico das relações entre humanos e máquinas, ela, mais uma vez, diz a que veio, diz Eugênio Bucci que apresenta a obra.
São 10 capítulos que também homenageiam Bauman e seu último livro Retrotopia [a utopia do passado]. O autor nos diz que a perda completa da esperança de alcançar felicidade neste planeta tem levado a buscas imateriais e tecnológicas que só reforçam a volta à bolha, ao olhar individualista para o próprio umbigo. Não voltaremos no livro a topologia do século XX, com suas guerras mundiais, fábricas e a automação da vida. Mas é importante relembrar como chegamos aqui.