Tempo esgarçado

 

A solidão espicha o tempo

 

Que se abre em leques

 

O vento norte sopra devagar

 

a braçada fica calma

 

o azulejo escorrega

 

pedindo afeto à piscina

 

A noite brilha na varanda do arranha-céu

 

o céu conforta

 

o chão aflige

 

Falar pra que

 

Ouvir ruídos é mais instrutivo

 

e exigente

consigo

contigo

convosco

 

Aprendemos a perder a cada dia

o viço da pele

a febre por amor,             que um dia existiu

o inusitado que aflige

 

Descobrimos o aparador que te abraça

e só faz barulho ao ser tocado

Nada pede

ou exige

Ele está ali. E basta.

Como a escova de cabelo

que espera paciente

a brincadeira começar

uma, duas, dez escovadelas para dormir

para acordar

A escova, o aparador e o vento nada pedem

Ou talvez, de vez em quando, saia um pedido baixinho

Preguiça ao tempo esgarçado dos dias

piscina