A existência valorizada por likes. Será?

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O primeiro like da história do Facebook foi dado no dia 9 de fevereiro de 2009. Cinco anos depois, os números mostram o “curtir” como um dos maiores fenômenos culturais da atualidade. São 1,8 milhão por minuto ou 4,5 bilhões diários na rede social”. Este trecho faz parte da reportagem Tudo por um like, publicada na revista Galileu. Para Zygmunt Bauman, principal pensador da atualidade, “a condição de ser observado e visto foi reclassificada de ameaça para tentação. A promessa de maior visibilidade, a perspectiva de “estar exposto” para que todo mundo veja e observe, combina bem com a prova de reconhecimento social mais avidamente desejada, e, portanto, de uma existência valorizada”.

Depois de alguns anos pesquisando o comportamento dos usuários nas redes sociais para escrever o livro A força da Mídia Social (2010), que ganha nova versão atualizada e ampliada neste segundo semestre, percebi que estamos vivenciando a mesma solidão que o personagem Theodore, interpretado por Joaquin Phoenix, no filme Her, do diretor Spike Jonze. O longa mostra a interação homem-máquina de forma perturbadora. Theodore é instável demais para conseguir lidar com relacionamentos, e acaba por se render à máquina. Ele interage diariamente com o sistema operacional Samantha e acaba se apaixonando pelo software. Acho que as pessoas viciadas em likes e selfiessão meio Theodore, pois são solitárias e precisam dessa valorização virtual para manter a autoestima em alta. E também têm dificuldades de administrar o mau humor quando são contrariadas, o que é facilitado pelo relacionamento digital.

“Se eu gostava de tal pessoa porque ela curtia muito tudo que eu postava e parou de curtir; basta deixar de seguir. Simples e indolor”, diz um usuário do Facebook.

O efeito dopamina

Quanto mais curtidas, mais se aumenta a dose de dopamina no cérebro e a pessoa sente-se mais feliz, concluiu a professora Kristen Lindquist, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Essas pesquisas, ainda em fase preliminares, podem nos ajudar a entender a vontade sem limites de se expor e compartilhar. A popularização da internet gerou uma avalanche informativa, permitindo que novos atores produzam conteúdo. A mídia social representa um conjunto de ferramentas que permite ao usuário (e consumidor) participar também como construtor, gerando conteúdos, serviços, informação e entretenimento em pé de igualdade com produtores profissionais. Isso precisa ficar claro para o profissional que atua nos dias de hoje na área de Comunicação. A interação social, movida pela participação e pela influência, deixou o controle da mídia tradicional a ver navios. Mergulhados em selfies, likes e compartilhamentos, tentamos entender o complexo momento atual.

Esta coluna foi publicada inicialmente no site da Aberje